Manifesto
A identidade histórica e social da cidade de Gondomar não se completa sem um olhar atento sobre a actividade da extracção mineira desenvolvida nas minas de S. Pedro da Cova, ao longo dos séculos XIX e XX.
Durante décadas e décadas, a vila de S. Pedro da Cova foi ponto de confluência de pessoas e de anseios marcados indelevelmente nos rostos e nas mentes pela experiência de vida que o trabalho mineiro representava. Basta conversar com algum trabalhador ou trabalhadora das Minas, dos que ainda sobrevivem, para perceber a riqueza de histórias, boas ou más, que fazem parte do património imaterial que pouco a pouco se vai perdendo.
Se, por um lado, não podemos impedir o curso natural de quem por lá viveu, amou e sofreu, e o estudo da realidade que as Minas criaram é tarefa individual de investigação de quem deseja preservar memórias, interpretar factos ou desvelar a história; por outro, é função colectiva defender o património material em que essa mesma realidade se alicerçou, não só para a compreensão do passado mas sobretudo para a construção do futuro.
Não deixa de ser consternador perceber o desleixo e o abandono a que foi votado o complexo arquitectónico mineiro desde o encerramento das Minas em 1972. Não se compreende a ausência de uma estratégia conjunta dos poderes locais na conjugação de esforços para que aquele espaço possa ser repensado e utilizado, preservando memórias, mas adaptado às exigências e necessidades do presente. É desolador arriscar uma visita às antigas minas e ali encontrar o vazio de iniciativas e acções que poderiam revitalizar o espaço envolvente e o Cavalete do Poço de S. Vicente, esse objecto raro na arqueologia mineira em Portugal, mesmo assim imponente e soberanamente nobre. É importante que os jovens de hoje possam aceder, de forma segura e multifacetada ao passado que moldou a sua própria terra.
Tendo em conta este cenário, encontra-se em fase de criação um movimento cívico em defesa do referido Cavalete enquanto símbolo de inegável valor para a história do património industrial português, já reconhecido pelo IPPAR como “imóvel de interesse público em vias de classificação”.
O movimento propõe-se:
- Recolher, tratar e divulgar testemunhos orais sobre a actividade mineira;
- Promover sessões públicas de sensibilização para a preservação do património mineiro, tanto no que diz respeito à classificação efectiva do Cavalete do Poço de S. Vicente pelo IPPAR, como na definitiva criação de um verdadeiro museu mineiro que dignifique as gerações passadas e orgulhe as futuras;
- Fomentar o interesse e o gosto pela descoberta da realidade mineira nas crianças e nos jovens das escolas de Gondomar, no âmbito da ligação escola/meio preconizada pela Lei de Bases do Sistema Educativo.